Celebração de Ação de Graças no XIII aniversario da morte da Irmã Lúcia - Homilia de Dom Virgílio

XIII ANIVERSÁRIO DA MORTE DA IRMÃ LÚCIA

MISSA DE AÇÃO DE GRAÇAS

Caríssimos irmãos e irmãs!

Faz hoje um ano que encerrámos a fase diocesana do processo de canonização da Irmã Lúcia e pedimos à Igreja que a eleve à honra dos altares. Queremos continuar a dar graças a Deus pelo dom da sua vida e do seu testemunho de fé e fidelidade ao Senhor, pois queremos que continue a ser para nós um exemplo e um estímulo de vida cristã e de serviço à Igreja.

Acreditamos que foi escolhida por Deus para manter vivo e atuante o Evangelho de Jesus Cristo, pela via mais segura, a via mariana do acolhimento da graça, da escuta da Palavra que salva, da entrega total de si mesma e da disponibilidade para fazer em tudo a vontade do Pai.

Acreditamos ainda que percorreu a via eclesial, na condição de discípula que segue o Mestre para onde quer que Ele vá, numa profunda intimidade com Cristo e aberta à evangelização e à missão, pelo cultivo da oração no silêncio da vida contemplativa, mas também pelo uso da palavra tanto na oralidade, como particularmente, na escrita, como atestam as inúmeras cartas e outros textos produzidos em variadas circunstâncias.

Acreditamos que cada momento da sua vida pessoal e comunitária foi vivido à luz da palavra do Evangelho, discernido com a ajuda da mensagem de Fátima, de que foi depositária; compreendemos que cada alegria ou tristeza dos que se lhe dirigiam por via postal, foi seriamente conferido na oração em busca da resposta mais adequada para os conduzir a Cristo e os ajudar a orientar a vida pelos caminhos da fé, com esperança e com amor.

Muitos encontram na mensagem da sua vida e na mensagem das suas palavras um novo alento para continuar, particularmente no meio das muitas tribulações que os levam a recorrer à sua intercessão, particularmente nos momentos mais duros, quando somente a notícia da bondade e do amor misericordioso de Deus é profundamente consoladora e capaz de alimentar a esperança.

Continuamos, por isso, a pedir à Igreja o dom da sua canonização, na certeza de que constituirá um sinal eloquente para o caminho de fé de toda a Igreja e um estímulo para que seja mais santa, tal como lhe foi pedido por Jesus e pela mensagem de graça e misericórdia da Virgem Maria, a sua imagem e modelo.

A Palavra de Deus que escutámos, traz-nos, hoje, um forte incentivo para que renovemos a súplica conclusiva do “Pai nosso”: “não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Começa por assegurar que não é Deus que nos tenta, pois Ele vela sempre para que permaneçamos na bondade e no amor que O caraterizam e que foram inscritos na nossa identidade de Suas criaturas. Refere-se depois aos maus desejos, que nos arrastam e seduzem a ponto de poderem conduzir ao pecado que gera a morte.

Quando estudamos a mensagem de Fátima, acolhida e guardada pela Irmã Lúcia, deparamo-nos com três palavras, que exprimem esta luta feroz existente dentro de nós: o apelo no sentido da fidelidade à graça, que liberta e salva; a possibilidade real de nos deixarmos sucumbir pelo pecado que escraviza e mata; a proposta sempre presente de nos deixarmos envolver pela misericórdia de Deus, oferta da coroa da vida que o Senhor prometeu àqueles que O amam. Graça, pecado e misericórdia, constituem esta trilogia central do Evangelho, atualizado pela mensagem de Fátima, a partir das circunstâncias concretas do tempo em que ocorreram e profeticamente aberta ao futuro, de um modo muito especial ao tempo em que vivemos.

De entre as muitas realidades atuais que precisam de ser iluminadas pela graça e resgatadas pela misericórdia de Deus, por serem lugar de tentação, de pecado e de morte, destacam-se o lugar da fé no coração e na vida, o sentido de família humana e cristã, a justiça na sociedade.

O Evangelho é anúncio da fé em Jesus Cristo como o único Salvador, vivida na comunidade cristã, que se torna sal, fermento e luz para a humanidade. Como a mensagem e Fátima intuiu, ela está em profunda crise e a incredulidade tornou-se uma das maiores tentações. A palavra bíblica “nem só de pão vive o homem”, a que aludia o texto do evangelho noutros termos, foi substituída pela seguranças humanas, pelo apego ao pão que mata a fome do corpo, como se pudesse saciar os anseios do espírito.

Comunicar a fé em Jesus Cristo, com métodos adequados, linguagem compreensível e alegria contagiante, num novo ardor evangelizador, constitui o único caminho que leva ao encontro pessoal e eclesial com Cristo, por quem nos vem toda a graça e misericórdia.

A família é o grande campo de batalha em que se jogam questões fundamentais, como o sentido da pessoa humana, a verdade do amor, a grandeza da vida em todos os seus estádios, a autenticidade das relações sérias, fiéis e duradouras, os valores inscritos na matriz mais profunda de cada pessoa e de toda a humanidade.

Quando as famílias sucumbem face às inúmeras tentações que as circundam por todos os lados, gera-se efetivamente uma cultura de morte, com todas as consequências que experimentamos dia após dia.

À Igreja cumpre anunciar com coragem verdade o Evangelho do amor e da família, ao mesmo tempo que, com Cristo, há de sair de braços e coração abertos para acolher e integrar a todos os que estão feridos na sua condição familiar. Pela força da misericórdia de Deus e do acolhimento da Igreja, abrem-se caminhos de fortaleza diante das tentações que mortalmente podem atingir as famílias.

As mais variadas injustiças vividas nas sociedades são o fruto acabado da tentação do egoísmo aninhada no coração humano. Os maus desejos que arrastam e seduzem, referidos pela primeira leitura, têm larga expressão nas injustiças sociais, que conduzem à pobreza, à exploração e à violência.

Não há maior nem melhor palavra para motivar o caminho de uma humanidade aberta à construção de relações sociais justas e felizes do que a pronunciada por Jesus, que morre na cruz para dar vida aos seus irmãos. Ali se revela toda a graça e misericórdia e ali se abre o caminho para uma humanidade de irmãos.

No Evangelho reproposto pela mensagem de Fátima, sempre contemplamos as fontes do amor e da fraternidade, que brotam dos braços da cruz, o dom de Deus, a graça e a misericórdia que superam todo o pecado.

Agradeçamos ao Senhor que não cessa de vir ao nosso encontro com palavras e gestos iluminadores da vida.

Agradeçamos o dom da Virgem Maria, que vela por nós, para que não caiamos em tentação, mas permaneçamos firmes na graça e na misericórdia de Deus.

 

Carmelo de Santa Teresa, Coimbra, 13 de fevereiro de 2018

Virgílio do Nascimento Antunes, Bispo de Coimbra


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