Missa do XXIV Domingo Comum C - Homilia de Dom Virgílio

MISSA DO XXIV DOMINGO COMUM C
SZCZECIN – POLÓNIA – 2022.09.11

Caríssimos irmãos e irmãs!

Felicito-vos pela edificação deste Santuário dos Pastorinhos de Fátima. Como disse o Papa São João Paulo II no dia da sua beatificação, a 13 de maio de 2000, Francisco e Jacinta Marto são “duas candeias que Deus acendeu para iluminar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas”.

Ao longo de mais de um século, estas duas crianças, dois santos, proclamaram com a sua vida, a sua fé e o seu amor a Deus, que todas as horas sombrias e inquietas da história da humanidade vêm levantar-se a luz da esperança.

Conduzidos pela mão da Virgem Maria, mantiveram-se sempre naquela luz de Deus, que ilumina e transforma todas as nossas dores e extravios, pois é a luz de Jesus Ressuscitado. Na escola do Coração Imaculado de Maria, repleto do amor de Deus, aprenderam a amar todas as pessoas, especialmente as que estão perdidas nos caminhos da fé e da esperança, os pecadores.

O vosso santuário erigido em honra dos Pastorinhos de Fátima tem a vocação de ser uma alta torre de luz no meio desta grande nação católica, a Polónia. Obrigado pela vossa devoção à Virgem de Fátima e aos seus filhos prediletos, São Francisco e Santa Jacinta Marto. Obrigado, também, pelo convite que me fizestes para vir de Portugal, até aqui como mensageiro de Fátima, missão que me dá muita alegria. Com Maria e com os Pastorinhos queremos todos, vós e eu, caminhar na luz de Deus, que salva o nosso mundo sombrio e inquieto; queremos, vós e eu, ser também pequeninos pontos de luz, a refletir a luz de Deus, que alimenta as esperanças das nossas nações e povos.

Ao ler o livro do Êxodo tomamos consciência da misericórdia infinita de Deus, que se comove com o seu povo e tem compaixão de todos os seus filhos, apesar de reconhecer que é um povo com tendência para se afastar d’Ele e cavar a sua própria ruína. O Povo de Deus corrompeu-se com a idolatria e nós continuamos a desviar-nos do bom caminho que deseja para nós, cedendo às malhas do pecado, construindo a nossa vida fora da esfera do seu amor. Moisés e os profetas são chamados a descer ao meio da humanidade para lhe recordar e fazer ver como Deus está próximo e sofre com as sombras que povoam as suas vidas. Fomos criados para viver na luz, mas somos seduzidos pelas trevas do erro e do pecado, que nos destrói e nos mata.

Os profetas antecipam o momento decisivo em que Deus desce junto de nós por meio de Jesus, o Filho. Ele assume todas as nossas iniquidades e carrega com as nossas dores e pecados para nos libertar definitivamente de tudo o que nos escraviza por dentro ou nas situações humanas e sociais, que nos degradam na nossa condição de filhos e de Povo.

Paulo, na Primeira Epístola a Timóteo, sente-se também um enviado de Deus para proclamar a sua misericórdia para com todos. Acredita no Deus que o liberta e salva por meio de Jesus Cristo, Aquele que o surpreende como luz e palavra na sua estrada de Damasco. Dispõe-se, a partir da fé, a ser ele mesmo um raio de luz que ilumina a vida de muitos e que seduz os pagãos no seguimento de Jesus, a Luz do Mundo.

Podemos entender a missão da Virgem Maria como continuação desta missão profética e apostólica: ela está presente na Igreja e desce como mensageira do amor de Deus nos momentos mais críticos da história dos desvios e da corrupção da humanidade. Como Mãe, renova na Igreja a certeza da atenção e do cuidado contínuos de Deus pelos seus filhos; aceita participar da missão dos apóstolos, da missão da Igreja, de apontar para o Deus que sofre e se comove com as nossas perdas, a ponto de porem em causa a esperança da nossa vida.

À luz da fé, e como a Igreja o tem repetidamente afirmado, as aparições de Nossa Senhora de Fátima inserem-se no âmbito dessa missão profética entregue à Igreja. Como escreveu o Papa Bento XVI, a 13 de maio de 2010, "iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída". Depois de uma guerra, vieram outras guerras; depois de uma onda de ateísmo, eclodiram nova vagas de negação de Deus; depois das idolatrias proclamadas com voz forte, chegaram as idolatrias que tomaram conta da vida de muitas pessoas; depois do pecado reconhecido, veio a era do pecado tolerado e acolhido como algo normal ou na indiferença da vida quotidiana. A mensagem profética do Evangelho continua atual e a dimensão profética da mensagem de Fátima, que está ao seu serviço, não está, de facto concluída, pois há muitas sombras a precisarem da claridade da luz de Deus.

O Evangelho segundo São Lucas apresentava-nos as três parábolas da misericórdia, o cerne do anúncio da Boa Nova de Jesus. Este é o anúncio que pode transformar a vida de qualquer pessoa e de qualquer povo: Deus é amor, Deus é misericórdia. Quem tem a graça de reconhecer a força deste anúncio, inicia um caminho de conversão, que muda radicalmente a sua pessoa. A ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido, constituem da forma mais dura, a experiência humana que, pode abrir os olhos e os ouvidos para o processo da conversão a Deus, que é misericórdia.

Iluminada pela fé e com a força de amor do Espírito Santo, cada pessoa perdida nas suas idolatrias, é candidata a ouvir a voz do profeta, a reconhecer a sua debilidade e o seu pecado, a acolher a graça da conversão. Levantar-se, pôr-se a caminho, regressar à casa do pai, corresponde ao desejo maior de Deus; é motivo de alegria para Deus, porque alegra o coração daquele que regressa e se converte.

Não é por acaso que, as palavras mais significativas da mensagem de Fátima, lida em todas as suas fases e na sua globalidade, são: pecado, conversão, graça e misericórdia. A guerra fazia compreender aos pastorinhos as consequências do pecado; a conversão é o centro do início da proclamação da Boa Nova de Jesus e o apelo contínuo ao pecador para que ponha a caminho; a graça é a intervenção misteriosa de Deus que não deixa o pecador entregue a si mesmo; e a misericórdia é o dom maior oferecido por Cristo na cruz, pelo qual nos reconcilia com Deus.

Este percurso proclamado pelo Evangelho é reproposto em Fátima pelo Coração Imaculado de Maria, que sofre com o pecado dos seus filhos e ao ver nos caminhos da perdição aqueles que lhe foram entregues por Jesus no alto da cruz, para que, como Mãe de Misericórdia, cuide deles.

Irmãos e irmãs! Convido-vos a acolher com fé e amor os apelos da Mãe de Deus nas aparições de Fátima. Ela quer conduzir-nos à conversão a Cristo. Por meio dos sacrifícios oferecidos em ato de reparação do Coração Imaculado de Maria, por meio da oração meditada do Rosário e por meio da caridade para com os pobres pecadores, encontraremos os caminhos da paz do coração, da paz nas famílias e da paz entre os povos.

Seguindo o exemplo dos Pastorinhos de Fátima, que mergulharam na luz intensa de Deus, queremos abraçar a cruz de Cristo, que ilumina todas as sombras e inquietações da Igreja e do Mundo, a cruz que é o sinal da ressurreição para a vida eterna.

Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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