Santissimo Corpo e Sangue de Cristo - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO – 2022
Igreja de Santa Cruz de Coimbra

Caríssimos irmãos e irmãs!

A Igreja convida-nos hoje a celebrar Jesus Cristo como o alimento da nossa vida de cristãos e de todo o Povo de Deus.

Ouvíamos São Paulo a comunicar aos Coríntios e a todos nós a narração da tradição que recebeu e que perdurará para sempre: o Senhor Jesus tomou o Pão e tomou o vinho, deu graças ao Pai, e deu-os em alimento aos seus discípulos com o mandato de continuarem a realizar o mesmo gesto em sua memória.

No sacramento da Eucaristia anunciamos a morte do Senhor até à Sua vinda gloriosa e alimenta-se a nossa fé no Senhor que por nós morreu e ressuscitou. Proclamamos esta certeza da Sua presença real e viva no meio de nós e Ele realiza esta comunhão de discípulos que são chamados a edificar a Igreja na caridade e na esperança do encontro definitivo com Ele.

A grandeza da celebração da Eucaristia que ainda hoje realizamos vem-lhe do facto de ser continuação da ação de graças de Jesus Cristo ao Pai antes da Sua morte que selou a nova e eterna aliança de amor que nos salva; o culto eucarístico que realizamos na missa e fora da missa põem-nos sempre em sintonia misteriosa com o Senhor Jesus que se ofereceu ao pai e nos chama a oferecermos a nossa vida como sacrifício de ação de graças unido ao de toda a humanidade e reunido por Cristo diante do Pai.

Desde os tempos apostólicos que a Igreja nos propõe a participação na celebração dos mistérios da fé como alimento imprescindível da nossa comunhão com Deus e com os irmãos incorporados em Cristo pelo mesmo batismo e disponíveis para dar testemunho do que viram e ouviram, ou seja, da experiência de encontro libertador com o Senhor.

Não podemos viver sem o domingo, o dia do Senhor, porque enquanto cristãos e membros do Povo de Deus, não podemos viver sem a Eucaristia. Se deixamos de participar domingo após domingo, morre em nós a fé, porque deixa de ser celebrada com o coração e com a vida e deixa de correr em nós a graça do Sacramento da Eucaristia, que é presença viva de Cristo em nós.

É verdade que a vida cristã não se reduz ao momento celebrativo do domingo; mas mais verdade é também que sem a participação na missa e nos mistérios da fé dentro da comunidade eclesial, arrefece e desaparece rapidamente a vida cristã. O sinal das igrejas cada vez menos povoadas de fiéis é um evidente sintoma da debilidade da fé cristã e do sentido de pertença a Cristo e à sua Igreja. Esta há de ser uma das áreas centrais da ação pastoral da Igreja: proporcionar às pessoas os meios adequados para o crescimento na fé, que as levem a uma integração feliz na celebração litúrgica e a uma alegre oferta da vida com Cristo e os irmãos ao Pai celeste.

Quando se conhece na sua maior profundidade e a partir do encontro pessoal com Cristo, a fé cristã ama-se, celebra-se, vive-se e testemunha-se com coração e com alegria, na comunhão da Igreja. Eis, por isso, caríssimos irmãos, alguns tópicos que podemos usar a fim de fazermos o exame de consciência acerca da nossa fé cristã e das suas expressões: amar, celebrar, viver, testemunhar.

 

Encontramos no texto do Evangelho segundo São Lucas que há pouco ouvimos proclamar, a atitude dos Apóstolos fortemente contrastante com a atitude de Jesus: eles querem despedir a multidão para que saia daquele lugar deserto e vá às povoações procurar alimento; Jesus quer que permaneçam e que sejam saciadas ali mesmo, no lugar em que todos se encontram.

Recordamos outras narrações dos Evangelhos em que os Apóstolos procuram afastar as pessoas de Jesus para que não o importunem, a contrastar com as suas palavras sempre acolhedoras ou com o ensino por parábolas: vinde comer o Pão, vinde beber o vinho, tudo está preparado...

“Dai-lhes vós de comer”, diz Jesus aos Apóstolos. Depois tomou os cinco pães e dois peixes, pronunciou a bênção, partiu-os e entregou-os para serem distribuídos pela multidão. Todos comeram e ficaram saciados com o dom de Deus distribuído pelos Apóstolos, ou seja, pelas colunas das fundações da Igreja. Jesus mandou aos Apóstolos que dessem de comer à multidão, mas foi Ele mesmo quem pôs nas suas mãos o alimento, que saciou a todos a ponto de ainda se recolherem doze cestos.

Esta linguagem traz-nos sempre à mente uma alusão a todos os dons que Deus oferece à sua Igreja por meio de Jesus Cristo, recorda-nos a graça e a salvação, a fé a esperança e o amor depositados nos nossos corações, a alegria de estar em Cristo e de sermos novas criaturas, os caminhos da santidade que podemos percorrer, a vida eterna como a nossa vocação definitiva. Acima de tudo, vemos aqui uma alusão à Eucaristia como o Sacramento da caridade, o memorial da morte e ressurreição do Senhor, o cume e o centro da ação da Igreja que louva o Seu Senhor e lhe oferece a sua vida.

Continuadores que somos da Igreja das origens, da Igreja Apostólica, damos continuidade à vocação inicial de saciar as fomes e sedes das multidões com o Pão e o Cálice da Salvação, com a Palavra inspirada que ilumina a vida dos fiéis.

A palavra de Jesus “dai-lhes vós mesmos de comer”, dirige-se a toda a Igreja, enviada a anunciar os dons de Deus a todos os povos da terra por meio da evangelização; dirige-se a cada comunidade cristã, que tem por missão tornar presente a pessoa de Jesus Cristo nos lugares e tempos em que vive, por meio da celebração dos sacramentos; dirige-se a cada família cristã que, juntamente com os bens materiais necessários para o bem-estar dos seus membros, ampara no crescimento da fé, ensina a conhecer os caminhos da fraternidade, da justiça e do amor ao próximo.

“Dai-lhes vós mesmos de comer” é uma palavra que nos faz responsáveis pelos outros em todas as situações, mas de um modo especial nas situações limite, quando a sua vida física ou espiritual corre perigo, quando o seu nascimento corre o risco de ser interrompido ou quando a doença e o sofrimento conduzem ao desespero que leva ao desejo da morte. Sempre, mas especialmente nessa altura, é preciso estar presente, tratar com amor e com as condições materiais adequadas, cuidar da saúde, aliviar as dores físicas e morais, anunciar a fé e a esperança, que transformam os corações e fazem sentir a força do amor de Deus e do amor do próximo.

“Dai-lhes vós mesmos de comer” constitui o mandato dado por Jesus à Igreja, que a põe sempre em estado de missão, disponível para ser serva da humanidade, com o Evangelho e a Eucaristia, a Palavra da vida e o Pão da eternidade. Encontraremos em Jesus a inspiração para acolher a multidão e superar a tentação de mandar embora seja quem for, pois todos são destinatários deste anúncio, todos são convidados a participar deste tesouro, que Deus quer distribuir por meio da sua Igreja.

Que a Eucaristia que celebramos e adoramos como mistério de amor, nos transforme e nos entusiasme na missão de partilhar o dom que recebemos de graça para darmos também de graça.

Coimbra, 16 de junho de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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