MISSA DA SOLENIDADE DE SANTA TERESA DE JESUS - CARMELO DE SANTA TERESA

Irmãos e irmãs

“Jesus disse: «Dá-me de beber»”.

Foi a palavra inesperada dirigida por Jesus à mulher samaritana, junto do poço de Jacob: um homem judeu pede de beber a uma mulher samaritana, no calor do meio dia, enquanto os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos.

A mulher fala da sede num sentido natural, correspondente à sua preocupação imediata, pois o trabalho de encontrar e transportar a água, numa região semidesértica é questão da maior importância, pois é questão de sobrevivência.

Os discípulos vão à cidade procurar alimentos para matar a sua fome biológica, uma vez que nas regiões desabitadas da Samaria não encontram o necessário para a subsistência, que ainda lhes aparece como primeiro objeto dos seus esforços.

Jesus, porém, cansado, pede de beber, jogando com o sentido material e espiritual das palavras poço, sede e água. Ele conhece outra fonte, donde jorra água viva, outra água, que matará para sempre a sede àquele que a beber; e outra sede, que é um anseio incontido de vida eterna.

Nesta cena, o Evangelho de João oferece-nos um percurso de fé e de vida, que havemos de fazer pessoalmente e propor aos outros enquanto servos da missão evangelizadora, que assumimos como cristãos.

Todos os momentos e todas as situações são portadores de um forte potencial evangelizador. Dentro das relações quotidianas mais comuns, nas ocasiões formais e institucionais de encontro de pessoas, no contexto familiar, laboral, social ou eclesial, deparamo-nos com homens e mulheres, qua ainda se encontram na fase de ir procurar alimentos à cidade ou que já procuram a água que mate as suas mais profundas sedes.

Pode tratar-se de judeus ou samaritanos, ou seja, de pessoas aceites e consideradas na sociedade, em conformidade com os cânones da fé e da Igreja, ou, porventura, de ovelhas completamente tresmalhadas e perdidas no meio de um mundo agressivo e desorientado.

Qualquer tempo e qualquer lugar é tempo e lugar de anúncio daquele que sacia a fome e a sede do mundo, com o Pão da Vida e a água que jorra para a Vida Eterna, qualquer tempo e lugar é tempo e lugar de evangelização.

 

“Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: «dá-me de beber»!”

Surpreende-nos que seja Jesus a pedir de beber. Noutros passos dos Evangelhos é igualmente Ele quem vai ao deserto para se encher da fortaleza do Espírito Santo em ordem a assumir a missão que recebeu; é Ele quem sente maior necessidade de estar em comunhão orante com o Pai, tanto no silêncio e na solidão como na atenção às multidões que acorrem de todos os lados para O ver, ouvir e tocar.

Com esta atitude, Jesus revela-nos a importância do conhecimento do dom de Deus como condição para caminhar no desejo de se deixar saciar por Ele. Enquanto Filho, Jesus conhece o Pai, conhece o seu amor infinito, sabe que não existe fora dessa comunhão de amor que mata toda a fome e toda a sede.

Ao mesmo tempo, Jesus revela-se como o verdadeiro Dom de Deus, revela a identidade daquele que diz à samaritana: «dá-me de beber». Ele é o «Senhor», tal como ela se lhe dirige logo a seguir, Ele é a fonte de água viva que está no meio de nós e que está disponível para nos saciar. Por meio de nós e da Igreja, Ele está disponível para fazer chegar o Dom de Deus a toda a humanidade, a nascente que jorra para a vida eterna.

Duas grandes questões persistem hoje entre nós, que dificultam a missão de dar a conhecer Jesus Cristo como a água que jorra para a vida eterna: em primeiro lugar, da parte dos cristãos individualmente, das comunidades cristãs e da Igreja, um insuficiente conhecimento do dom de Deus; em segundo lugar, da parte da humanidade a evangelizar, uma grande incapacidade de reconhecer a sede de Deus que está por detrás dos desejos de felicidade e realização.

“Se conhecesses o dom de Deus”, é uma provocação a cada um de nós, que ainda não entrou em profundidade num conhecimento que seja acima de tudo contemplação d’Aquele que já habita em nós e continuamente se oferece para preencher todos os nossos vazios e anseios, para aniquilar os nossos medos e fortalecer as nossas esperanças.

“Se conhecesses quem é Aquele que te diz: «dá-me de beber»” é outra provocação a todos os que ainda não realizaram um encontro definitivo com Jesus Cristo, a ponto de estarem disponíveis para deixar tudo e O seguir.

Surpreende-nos enquanto cristãos a humildade de Jesus, que nos ensina a pedir: “dá-me de beber”, como que a dizer que o nosso caminho de encontro, conhecimento, compromisso e entrega, está apenas no início.

Os homens e mulheres nossos contemporâneos, destinatários do anúncio a fazer pela Igreja, são terreno pouco permeável a esta água viva de que fala o Evangelho. A cultura envolvente impossibilita-os de sentir uma sede que não seja da água do poço ou uma fome que não seja a dos alimentos que se compram e se vendem na cidade.

Deus, hoje, não se impõe como resposta aos anseios de felicidade que habitam no coração do homem. Procura-se preencher os vazios por outras vias; buscam-se as razões de viver e o sentido da existência em apoios muito terrenos e passageiros, quando não mesmo fúteis.

Estas duas dificuldades são, por sua vez, duas oportunidades que nos oferece o Espírito Santo de Deus. Primeiro para que entremos em profundidade na comunhão com Cristo e o sintamos como nosso Deus, nosso Senhor, fonte inesgotável de graça que nos sacia; depois, para que nunca cessemos de ir ao encontro dos homens e mulheres nossos irmãos com a provocação de uma fé vivida e testemunhada na fidelidade ao dom que recebemos e conhecemos.

No Carmelo ou no mundo, pedimos ao Espírito que venha em nosso auxílio e interceda por nós, para que entremos no mistério da sabedoria de Deus, que vale mais do que o ouro ou a prata, a saúde ou a beleza, e é para nós um tesouro inesgotável.

 

Santa Teresa, grande sedenta de Deus, que encontrou na contemplação mística o gozo do amor que saciou todos os seus anseios, rogue por nós. Que pelo seu exemplo e intercessão conheçamos o dom de Deus e como filhos da Igreja missionária, trabalhemos incansavelmente para aproximar os homens da nascente que jorra para a vida eterna.

 

Coimbra, 15 de outubro de 2013

Virgílio do Nascimento Antunes

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