Peregrinação Diocesana ao Santuário de Fátima 2023 - Homilia de Dom Virgílio

PEREGRINAÇÃO DA DIOCESE DE COIMBRA AO SANTUÁRIO DE FÁTIMA
MISSA DA VIRGEM MARIA, IMAGEM E MÃE DA IGREJA (II)

Caríssimos irmãos e irmãs, peregrinos!

Hoje subimos ao Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a Virgem Maria, Imagem e Mãe da Igreja. Trazemos a nossa fé e a nossa vida, bem como as realidades presentes na Igreja e no mundo e pedimos inspiração e rumo para o percurso, às vezes claro e reto, outras vezes obscuro e tortuoso. Acreditamos que, neste lugar, Deus nos fala ao coração, por meio das palavras do Evangelho, explicado pelos cuidados da Mãe de Deus e nossa Mãe, o Imaculado Coração de Maria.

Hoje subimos a esta casa edificada em nome da Virgem Maria para, com ela e como ela, nos levantarmos de novo e, apressadamente nos pormos a percorrer os caminhos da renovação da nossa fé e da nossa vida. Essa é sempre a condição para empreendermos a missão de ir ao encontro dos irmãos com a palavra do Evangelho na boca e a caridade no coração, a condição para levarmos Cristo aos irmãos e irmãs que, para nós, sejam eles quem forem, são sempre figura de Cristo, que tem fome e sede, que não conhece o rosto do amor, que precisa de consolo e salvação.

A nossa peregrinação, uma ou várias vezes ao ano, a este lugar ou a outros que nos são oferecidos pela Igreja, não substitui a vida quotidiana, nem anula a necessidade de mantermos a regularidade da presença nas nossas comunidades, mas constitui uma ocasião de graça para a nossa renovação espiritual. Destes momentos únicos saímos sempre mais fortes na fé, mais decididos a acolher Cristo e mais entusiasmados para anunciarmos o Evangelho e edificarmos as comunidades cristãs, na unidade e na comunhão da Igreja.

As leituras que escutámos traçavam-nos a relação dos Apóstolos e de Maria com Jesus como a inspiração central das suas vidas.

O texto dos Atos dos Apóstolos, começando pela referência à ascensão de Jesus ao Céu, supõe o conteúdo dos Evangelhos, centrados na paixão, morte e ressurreição, passando pelas narrativas da sua infância e desenvolvendo todo o seu ensino, em palavras e obras, durante a sua vida pública. 

Agora, que Jesus já não estava fisicamente no meio deles, voltavam a Jerusalém, onde tinham acompanhado os acontecimentos derradeiros: tinham seguido com Ele até ao Calvário, tinham-n’O contemplado suspenso na cruz e tinham visto o sepulcro vazio, bem como tinham sido beneficiados pelas suas aparições de Ressuscitado. Aquela experiência consoladora, quando escutavam as suas palavras de salvação e viam os seus gestos maravilhosos de amor no tempo do anúncio, bem como a experiência perturbadora e chocante da paixão e morte ou o renascer da esperança no contato com Cristo Vivo, não podiam desaparecer da sua memória visual nem saíam do seu coração.

A confiança da fé perdura nas suas vidas. Subirem a Jerusalém e perseverarem unidos em oração, é para os apóstolos, para algumas mulheres e para Maria, o sinal de que Jesus tinha tocado o coração de pessoas muito diferentes, o coração da Igreja nascente e constituída precisamente por Maria, pelos Apóstolos e por outras pessoas, naquele caso, as mulheres, cujos nomes se omitem.

Depois da experiência de encontro de encontro de Jesus com aquelas pessoas, depois da passagem de Jesus pelas suas vidas, não é possível esquecê-l’O, pois mudou-os por dentro na sua confiança e levou-os a traçarem um rumo diferente do que tinham previsto, fez nascer neles uma nova vocação. Como dirá Paulo numa das suas cartas, viriam a ser chamados cristãos, porque seguidores de Cristo e deixavam que fosse Ele a conduzi-los.

O dom do Espírito Santo, que os Atos dos Apóstolos narram a seguir, é a resposta de Deus à oração dos que acreditaram que Jesus é o Senhor. Será também a força do amor de Deus a tecer as relações da comunidade cristã, da Igreja, e a alimentar o seu futuro.

Irmãos e irmãs! Esta experiência fundante da Igreja continua a ser a nossa em cada tempo da história. Os que já são cristãos precisam de a reviver continuamente; aos que andam à procura, havemos de a proporcionar, com alegria, com o testemunho fiel e com os meios pastorais e evangelizadores mais adequados e que a Igreja nos propõe continuamente no seu sábio ministério.

Colhamos, neste dia, algumas propostas de ação, que a escuta da Palavra de Deus, a celebração da Eucaristia e a nossa peregrinação nos oferecem:

Em primeiro lugar, havemos de revisitar continuamente a Palavra das Escrituras, que lemos, meditamos e nos levam a definir os contornos da nossa vida, conduzidos por Jesus. A Bíblia tem de ser o nosso livro de todos os dias, pois nela é Cristo que nos fala, nos seduz e nos conduz. Ela contém em si a força que nos leva ao encontro com Jesus, fazendo-nos reviver os caminhos dos Apóstolos e de Maria.

Em segundo lugar, havemos de contemplar continuamente a oferta de Jesus ao Pai, na cruz e na glória da ressurreição. A nossa configuração com Cristo, nosso Mestre e Senhor, tem de procurar-se e interiorizar-se diariamente. A Eucaristia, que celebramos, como mistério de amor no qual somos acolhidos e envolvidos, tem a força que nos permite estar em Cristo, viver em Cristo, como Igreja, unidos aos Apóstolos, a Maria e a todos os nossos irmãos e irmãs pelo batismo. 

Em terceiro lugar, havemos de manter-nos unidos na oração pessoal e comunitária, pois ela é um elo de ligação único, com Deus e com os irmãos, é a grande prova de amizade e confiança, que nos leva a agradecer e a suplicar, a conformar o nosso coração com o coração de Deus. 

A oração tem a força de segurar cada pessoa na comunhão com Deus e a Igreja na fé e no amor que a animam e que deve testemunhar ao mundo. Pela oração a comunidade reunida dispôs-se a acolher o Espírito Santo, o Dom de Deus, que refaz continuamente em nós a experiência viva do encontro com Deus, que nos faz ser cristãos.

O Evangelho segundo São João, ao narrar-nos o episódio das Bodas de Caná, situa Jesus na vida das pessoas a quem se dirige com o anúncio do Reino. Ali está também Maria, sua Mãe e os seus discípulos, porque todas as situações da humanidade precisam de ser iluminadas pela luz de Deus.

Jesus continua presente no quotidiano da nossa existência a oferecer-nos luz para as nossas alegrias e dores, a favorecer-nos a alegria simbolizada na festa, nas bodas e no vinho de Caná da Galileia. Se não Lhe damos lugar em cada momento do nosso dia, não poderemos acolhê-l’O nos momentos especiais de vitória ou de derrota pelos quais passamos. 

O cristão é aquele que quer Cristo na sua vida e que O procura em todos os momentos, mesmo que haja noite escuras ou vales sombrios, é aquele que quer Cristo presente e a conduzir o seu rumo, pois Ele é sempre oferta disponível para aqueles que O amam.

É importante para nós saber que a Virgem Maria está também presente quando os apóstolos perseveram na oração juntamente com algumas mulheres e que ela está presente nos acontecimentos diários das pessoas, acompanhando a Jesus seu Filho e todos os seus filhos e filhas. 

Maria acompanha todos os nossos percursos humanos como protetora e como primeira na fé cristã. No presépio, na vida de Nazaré ou na vida pública de Jesus, junto à cruz, na manhã da Páscoa, no Cenáculo, na história da Igreja, ela está de pé com fé, com confiança e com amor. Ela está sempre pronta a levantar-se e a partir apressadamente ao encontro de Isabel, em direção a Caná e aos momentos festivos do seu povo, rumo aso Cenáculo onde se celebra o banquete e o sacrifício de Jesus. Está mesmo pronta a levantar-se e a partir em direção à cruz de Jesus ansiando pela aurora do primeiro dia e pela alegria do sepulcro vazio. Maria está ainda mais disponível para se levantar e vir ao encontro de cada um de nós com Cristo no seu seio e no seu coração. Como poderemos nós ficar parados e sem esperança?

Como disse aos Pastorinhos nas aparições de Fátima, Maria, que nos conhece bem em todos os detalhes do que somos, ela diz-nos também a nós, hoje: “Eu nunca te deixarei só. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”. 

Por isso aqui vimos em peregrinação e por isso voltamos aos nossos lugares, mas com o coração mais fortalecido e sempre a procurar mais seguir a sua exortação: “fazei tudo o que Ele vos disser”.

Fátima, 08 de julho de 2023
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

Oral

Genç

Milf

Masaj

Film

xhamster