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DESTAQUE
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 Habemus
Papam!
(19
de Abril de 2005)
Bento XVI
Joseph Ratzinger
Biografia
A mensagem de
um nome
por D.
José Policarpo, Cardeal
Patriarca |
O Conclave elegeu como novo Papa o cardeal e
teólogo alemão Joseph Ratzinger. O novo Papa será conhecido
como Bento XVI e foi aclamado esta tarde por milhares de fiéis
reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano, a quem se
apresentou como "um humilde trabalhador das vinhas do Senhor".
"Queridos irmãos e irmãs, depois do
grande Papa João Paulo II, os cardeais elegeram-me a mim - um
simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor",
disse perante a multidão na sua primeira mensagem como Sumo
Pontífice.
Na sua breve intervenção, o novo Papa saudou a memória do seu
predecessor, João Paulo II, após o que deu a sua bênção "urbi
e orbi" (à cidade e ao mundo).
A eleição de Bento XVI - no segundo dia do conclave e depois
de apenas quatro votações - foi uma das mais rápidas das
últimas décadas. O mesmo tempo durou a eleição de Pio XII, em
1 de Março de 1939.
Joseph Ratzinger, 78 anos, é o primeiro cardeal alemão em
séculos a ser eleito. Era Prefeito da Congregação para a Doutrina
da Fé desde 1981.
A escolha do nome, Bento XVI, pode ser
entendida como um sinal de que o novo Papa vai ter uma atitude
análoga à de Bento XV que abriu a Igreja ao mundo e
impulsionou o dinamismo missionário.
Ao escolher o nome de Bento XVI, o cardeal
Joseph Ratzinger enlaça o seu pontificado com dois grandes
evangelizadores, o Papa Bento XV e São Bento fundador dos
beneditinos.
O bispo Cipriano Calderón, vice-presidente emérito da
Pontifícia Comissão para América Latina, explica: «A
novidade deste pontificado radica já no nome escolhido: sucede
Bento XV, que escolheu este nome em honra a São Bento, patrono
da Europa e grande evangelizador de seu tempo».
«Se Bento evangelizou a primeira Idade Média, Bento XV
evangelizou a Idade Moderna, o agora Bento XVI será o
evangelizador do novo milénio», explica o prelado.
Bento XV, Giacomo Paolo Battista della Chiesa, cujo
pontificado aconteceu entre 1914-1922, sucedeu Pio X ao
começar a Primeira Guerra Mundial. Na sua encíclica
programática, «Ad beatissimi apostolorum principis»
(1914) lançou um apelo à paz e questionou as causas da guerra.
Um de seus objectivos principais foi a formação e a
santificação do clero. Durante a guerra, desenvolveu uma
intensa actividade assistencial e promulgou o Código de
Direito Canónico. No campo ecuménico, instaurou na Igreja
Católica o oitavário de oração pela unidade dos cristãos, em
1916. É sua a afirmação de que «a Igreja não é latina, nem
grega, nem eslava, mas católica: não há diferença entre seus
filhos, sejam gregos, latinos ou eslavos, ou de outro grupo
nacional». A ele se deve a canonização de mulheres como
Margarida Maria Alacoque e Joana D’Arc. Morreu repentinamente
em 22 de Janeiro de 1922. Num monumento que lhe é dedicado em
Constantinopla (Turquia) diz-se que foi um pai comum «sem
distinção de nacionalidade ou religião, benfeitor de povos».
Tomou o seu nome do patrono da Europa, Bento de Núrsia
(480-547), autor da «Regra» monástica e pai dos beneditinos.
O bispo de Leiria-Fátima,
D. Serafim Ferreira e Silva, elogiou hoje a escolha de Joseph
Ratzinger como sucessor de João Paulo II, afirmando que o novo
Sumo Pontífice vai "desenvolver novos campos de acção" para a
Igreja Católica.
Em declarações à Lusa, D. Serafim Ferreira e Silva
considerou que a abertura ao diálogo inter-religioso encetada
por João Paulo II vai manter-se sob a direcção de Ratzinger e
salientou que a sua escolha corresponde a uma "lógica de
continuidade".
"É um homem que teve muito boa formação teológica e que
respeita muito as religiões", afirmou o prelado, que conhece
pessoalmente o até agora presidente da Congregação para a
Causa da Fé.
A 13 de Outubro de 1996, o cardeal presidiu às celebrações no
Santuário de Fátima e desse momento D. Serafim Ferreira e
Silva recorda uma "figura aberta ao espírito" que existe
naquele lugar.
"Era um dos nomes da minha lista", afirmou D. Serafim Ferreira
e Silva, que destacou as "capacidades intelectuais" do até
agora cardeal alemão.
"Será um Papa na linha do seu sucessor" e "vai provavelmente
desenvolver alguns aspectos novos da Igreja", no "mundo da
cultura e da ética", disse.
"Estou muito esperançado que seja um grande Papa", afirmou,
minimizando o facto de Ratzinger ser alemão.
"Na Igreja não há estrangeiros e não há fronteiras", pelo que
o eleito será o "Papa de todas as gentes e para todas as
gentes", disse.
O prelado de Leiria-Fátima negou ainda que Ratzinger seja uma
"figura conservadora", como é descrito por alguns sectores.
A eleição do cardeal
alemão Joseph Ratzinger para Papa é "uma boa escolha", afirmou
hoje o líder histórico do sindicato polaco Solidariedade, Lech
Walesa, uma das personalidades mais próximas do falecido Sumo
Pontífice João Paulo II.
"É uma boa escolha. Ele continuará a
missão do nosso querido Papa João Paulo II", afirmou o
antigo Presidente polaco e prémio Nobel da Paz.
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Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa saúda Bento XVI
Em comunhão com o Papa
O novo Papa estará aberto aos sinais dos tempos
Sublinha o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
sobre Bento XVI
Cardeais portugueses felizes com a escolha de Bento XVI
D. José Policarpo e D. Saraiva Martins dizem que a Igreja tem
um grande Papa
Continuará a obra de evangelização
Mensagem de D. Manuel Pelino à diocese de Santarém sobre Bento
XVI
Bento XVI, um homem da Igreja!
Um Papa de propostas ousadas
Novo Papa é um dos teólogos mais influentes da Igreja
O amigo português de Bento XVI
D. Amândio Tomás, bispo auxiliar de Évora, fala do sucessor de
Pedro
Bento, um nome com história
Um trabalhador da vinha do Senhor
Bento XVI apresenta-se ao mundo na bênção Urbi et Orbi
O
pensamento do Papa Bento XVI
O anúncio de Jesus ao
mundo do relativismo é a prioridade do novo Papa
Falando
com Bento XVI
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Homilia proferida
aos cardeais
na Eucaristia pela eleição do Papa
(18
de Abril de 2005)
Dirigindo-se ao
cardeais, Joseph Ratzinger esboça as prioridades pastorais da
Igreja |
Nesta hora de grande responsabilidade, escutemos com
particular atenção o que nos diz o Senhor com as Suas próprias
palavras. Das três leituras, quero escolher só algumas
passagens que nos interessam directamente num momento como
este.
A primeira leitura oferece o retrato profético da figura do
Messias, um retrato que alcança todo o seu significado no
momento em qual Jesus lê este texto na sinagoga de Nazaré,
quando diz: «Esta Escritura, que acabais de ouvir,
cumpriu-se hoje» (Lucas 4, 21). No centro deste texto
profético encontramos uma frase que, pelo menos à primeira
vista, parece contraditória. Ao falar de si mesmo, o Messias
diz que foi enviado «a pregar o ano de graça do Senhor, o
dia de vingança de nosso Deus» (Isaías 61, 2). Escutemos,
com alegria, o anúncio do ano da misericórdia: a misericórdia
divina põe um limite ao mal, disse-nos o Santo Padre. Jesus
Cristo é a misericórdia de Deus. O mandato de Cristo
converteu-se no nosso mandato através da unção sacerdotal;
somos chamados a promulgar não só com as palavras, mas também
com a vida e com os sinais eficazes dos sacramentos «o ano
da misericórdia do Senhor». Mas que quer dizer Isaías
quando anuncia o «dia de vingança de nosso Deus»?
Jesus, em Nazaré, ao ler o texto profético, não pronunciou
estas palavras: concluiu anunciando o ano da misericórdia. Foi
este talvez o motivo do escândalo que aconteceu logo a seguir
à sua pregação? Não sabemos. De todos os modos, o Senhor
ofereceu o Seu comentário autêntico a estas palavras com a Sua
morte na cruz. «Ele mesmo sobre o madeiro levou nossos
pecados...», diz São Pedro (1 Pedro 2, 24). E São Paulo
escreve aos Gálatas: «Cristo nos resgatou da maldição da
lei, fazendo-se ele mesmo maldição por nós, pois diz a
Escritura: maldito todo o que está pregado num madeiro, a fim
de que chegasse aos gentis, em Cristo Jesus, a bênção de
Abraão, e pela fé recebêssemos o Espírito da Promessa»
(Gálatas 3, 13s).
A misericórdia de Cristo não é uma graça barata, não supõe a
banalização do mal. Cristo leva no Seu corpo e na Sua alma
todo o peso do mal, toda a sua força destruidora. O dia da
vingança e o ano da misericórdia coincidem no mistério pascal,
em Cristo, morto e ressuscitado. Esta é a vingança de Deus:
Ele mesmo, na pessoa do Filho, sofre por nós. Quanto mais
ficamos tocados pela misericórdia do Senhor, mais solidários
somos com o Seu sofrimento, mais disponíveis estamos para
completar na nossa carne «o que falta às tribulações de
Cristo» (Colossenses 1, 24).
Passemos à segunda leitura, a carta aos Efésios. Enfrenta
essencialmente três temas: em primeiro lugar, os ministérios e
os carismas na Igreja, como dons do Senhor ressuscitado e
elevado ao céu; em seguida, o amadurecimento na fé e no
conhecimento do Filho de Deus, como condição e conteúdo da
unidade no corpo de Cristo; e, por último, a participação
comum no crescimento do Corpo de Cristo, ou seja, a
transformação do mundo na comunhão com o Senhor.
Detenhamo-nos em dois pontos. O primeiro é o caminho para a
«maturidade de Cristo», como diz, simplificando, o texto
em italiano. Mais em concreto teríamos que falar, segundo o
texto grego, da «medida da plenitude de Cristo», à qual
somos chamados a chegar para sermos realmente adultos na fé.
Não deveríamos ficar como crianças na fé, em estado de
menoridade. E, que significa ser crianças na fé? Responde São
Paulo: significa ser «levados à deriva e guiados por
qualquer vento de doutrina» (Efésios 4, 14). Uma descrição
muito actual!
Quantos ventos de doutrina conhecemos nestas últimas décadas,
quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento...
A pequena barca do pensamento de muitos cristãos com
frequência ficou agitada pelas ondas, levadas de um extremo a
outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem; do
colectivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago
misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo, etc.
Cada dia nascem novas seitas e se realiza o que diz São Paulo
sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir
no erro (Cf. Efésios 4, 14). Ter uma fé clara, seguindo o
Credo da Igreja, é etiquetado com frequência como
fundamentalismo. Enquanto que o relativismo, ou seja, o
deixar-se levar «guiados por qualquer vento de doutrina»,
parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se
construindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada
como definitivo e que apenas deixa como última medida o
próprio eu e suas vontades.
Nós temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem.
Ele é a medida do verdadeiro humanismo. «Adulta» não é
uma fé que segue as ondas da moda e da última novidade; adulta
e madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com
Cristo. Esta amizade abre-nos a tudo o que é bom e nos dá a
medida para discernir entre o verdadeiro e o falso, entre o
engano e a verdade.
Temos de amadurecer nesta fé adulta, temos de guiar para esta
fé o rebanho de Cristo. E esta fé, só a fé, cria unidade e
acontece na caridade. São Paulo oferece-nos, em oposição às
contínuas peripécias dos que são como crianças guiadas pelas
ondas, uma bela frase: fazer a verdade na caridade, como
fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, coincidem
verdade e caridade. Na medida em que nos aproximamos de
Cristo, também em nossa vida, verdade e caridade se fundem. A
caridade sem verdade seria cega; a verdade sem caridade seria
como «um címbalo que tine» (1 Coríntios 13, 1).
Passemos agora ao Evangelho, de cuja riqueza quero tirar tão
só duas pequenas observações. O Senhor dirige-nos estas
maravilhosas palavras: «Não vos chamo servos... chamo-vos
amigos» (João 15, 15). Muitas vezes nos sentimos
simplesmente servos inúteis, e é verdade (Cf. Lucas 17, 10).
E, apesar disso, o Senhor nos chama amigos, faz-nos Seus
amigos, dá-nos a Sua amizade. O Senhor define a amizade de
duas maneiras. Não há segredos entre amigos: Cristo diz-nos
tudo o que escuta do Pai; dá-nos a sua plena confiança e, com
a confiança, também o conhecimento. Revela-nos o Seu rosto,
Seu coração. Mostra-nos a Sua ternura por nós, o Seu amor
apaixonado que vai até a loucura da cruz. Dá-nos a Sua
confiança, o poder de falar com Seu eu: «este é o meu
corpo...», «eu te absolvo...». Confia-nos o Seu corpo, a
Igreja. Confia a nossas fracas mentes, a nossas fracas mãos a
Sua verdade, o mistério do Deus Pai, Filho e Espírito Santo; o
mistério do Deus que «tanto amou o mundo que lhe deu o Seu
Filho único» (João 3, 16). Fez-nos seus amigos, e nós,
como respondemos?
O segundo elemento com o qual Jesus define a amizade é a
comunhão das vontades. «Idem velle – idem nolle», era
também para os romanos a definição da amizade. «Vós sois meus
amigos se fizerdes o que Eu vos mando» (João 15, 14). A
amizade com Cristo coincide com o que expressa a terceira
petição do Pai Nosso: «Faça-se Tua vontade assim na terra
como no céu». Na hora do Getsémani, Jesus transformou a
nossa vontade humana rebelde em vontade conformada e unida nas
mãos de Deus, dá-nos a verdadeira liberdade: «mas não seja
como eu quero, mas como tu queiras» (Mateus 26, 39). Nesta
comunhão das vontades acontece a nossa redenção: ser amigos de
Jesus, converter-se em amigos de Deus. Quanto mais amamos
Jesus, mais o conhecemos, mais cresce a nossa autêntica
liberdade, a alegria de ser redimidos. Obrigado, Jesus, pela
Tua amizade!
O outro elemento do Evangelho que queria mencionar é o
discurso de Jesus sobre dar fruto: «destinei-vos para irdes
e produzirdes fruto, e que o vosso fruto permaneça» (João
15, 16). Aqui aparece o dinamismo da existência do cristão, do
apóstolo, destinei-vos para irdes... Temos de estar animados
por uma santa inquietude: a inquietude de levar a todos o dom
da fé, da amizade com Cristo. Em verdade, o amor, a amizade de
Deus, foram-nos dados para que cheguem também aos demais.
Recebemos a fé para entregá-la aos demais, somos sacerdotes
para servir aos demais. E temos de dar um fruto que permaneça.
Mas o que fica? O dinheiro não fica. Os edifícios tampouco
ficam, nem os livros. Depois de um certo tempo, mais ou menos
longo, tudo isto desaparece. A única coisa que permanece
eternamente é a alma humana, o homem criado por Deus para a
eternidade. O fruto que fica, portanto, é o que semeamos nas
almas humanas, o amor, o conhecimento; o gesto capaz de tocar
o coração; a palavra que abre a alma à alegria do Senhor.
Então, vamos e peçamos ao Senhor que nos ajude a dar fruto, um
fruto que permaneça. Só assim a terra se transforma de vale de
lágrimas em jardim de Deus.
Voltamos, por último, uma vez mais à carta aos Efésios. A
carta diz, com as palavras do Salmo 68, que Cristo, ao
ascender aos céus, «deu dons aos homens» (Efésios 4,
8). O vencedor distribui dons. E estes dons são apóstolos,
profetas, evangelizadores, pastores e mestres. Nosso
ministério é um dom de Cristo dado aos homens para edificar o
Seu corpo, o mundo novo. Vivamos o nosso ministério deste
modo, como dom de Cristo aos homens! Nestas horas, sobretudo,
pedimos com insistência a Deus para que, após o grande dom do
Papa João Paulo II, nos dê de novo um pastor segundo o seu
coração, um pastor que nos leve ao conhecimento de Cristo, ao
Seu amor e à verdadeira alegria. Amén.
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