DICASTERO DELLE CAUSE DEI SANTI
CONIMBRICENSIS
BEATIFICATIONIS et CANONIZATIONIS
SERVAE DEI
MARIAE LUCIAE A IESU
ET A CORDE IMMACULATO
(in saeculo: Luciae dos Santos)
monialis professae
ordinis carmelitarum discalceatorum
(1907-2005)
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DECRETO SOBRE AS VIRTUDES HEROICAS
«Era uma lâmpada que ardia e iluminava,
e vós quisestes alegrar-vos com a sua luz» (cf. Jo 5,35).
Estas palavras de Jesus iluminam a vida e a espiritualidade da Serva de Deus Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado (no século: Lúcia dos Santos). Conduzida pela Senhora do Rosário, a 13 de junho de 1917, foi chamada a difundir no mundo a devoção ao Coração Imaculado de Maria, vendo-se a si mesma dentro da luz que se espargia das Suas mãos difundindo-se sobre a terra. Assumindo a missão com fortaleza, mostrou que a santidade é «viver a Luz de Deus que habita em mim, viver na Luz, viver da Luz e viver para a Luz!» (Diário, 18/06/1970). Profeta da «graça e misericórdia» que Deus quer derramar sobre o mundo, oferece a sua vida, em união com Jesus-Eucaristia e com o Coração Imaculado de Maria, pela Igreja e pela conversão dos pecadores. Embora vivendo em clausura, a sua vida tornou a sua cela um lugar com um horizonte mundial, indicando «o caminho para a morada da luz» (cf. Job 38,19) e da paz.
Lúcia nasceu em Aljustrel (Fátima, Portugal) a 28 de março de 1907, foi batizada a 30 de março de 1907 e fez a sua primeira comunhão aos 6 anos.
Em 1916, com os seus primos, os santos Francisco e Jacinta Marto, teve, por três vezes, Aparições do Anjo da Paz e, nos dias 13, de maio a outubro (à exceção de agosto) de 1917, Aparições da Virgem do Rosário. Depois da morte dos primos, tornou-se a única guardiã da Mensagem de Fátima, tendo Nossa Senhora «como refúgio e caminho para Deus».
Entrou no Instituto de Santa Doroteia, em Espanha, a 24 de outubro de 1925. Em Pontevedra, a 10 de dezembro seguinte, teve a Aparição de Nossa Senhora e do Menino Jesus, na qual lhe foi pedida a Devoção dos Primeiros Sábados. Em Tuy, a 13 de junho de 1929, teve a Aparição de Nossa Senhora e da Santíssima Trindade, na qual se lhe pedia a Consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria. Fez a Profissão Perpétua, a 3 de outubro de 1934, e permaneceu em Espanha durante o período da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Guerra Mundial. Entre 1935 e 1941, por ordem do Bispo de Leiria, escreveu as suas Memórias sobre os primos e as Aparições e, a 3 de janeiro de 1944, escreveu a terceira parte do Segredo de Fátima.
Com o desejo de um maior recolhimento e silêncio, a 25 de março de 1948, entrou na Ordem do Carmelo, em Coimbra, tomando o nome de “Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado”. Recebeu o hábito carmelita a 13 de maio de 1948 e fez a Profissão Perpétua a 31 de maio de 1949.
Permaneceu na clausura do Carmelo até à sua morte, saindo por vontade dos Papas São Paulo VI (1967) e São João Paulo II (1982, 1991, 2000), por ocasião das suas viagens a Fátima. Observou a Regra Carmelita, na alegria de poder «ser igual a todas», distinguindo-se pela sua caridade. Dócil ao Espírito Santo, percorreu o caminho até à união transformante com Jesus-Eucaristia, o Esposo da sua vida.
A partir do silêncio do claustro tornou-se uma figura universal, guardando no seu coração os dramas do mundo, através da oração e dos sacrifícios, unindo harmoniosamente as dimensões mística e profética. Esta última desenvolveu-se, também, através de uma intensa atividade epistolar e literária.
Toda a vida da Serva de Deus foi uma participação no mistério Pascal de Cristo: a saúde frágil, as normas da Santa Sé sobre as visitas que podia receber, os compromissos da vida religiosa, as múltiplas relações com figuras eclesiais e de diversos âmbitos sociais. Em tudo, renovava o «Sim, queremos» de 1917 e repetia no seu coração a oração de oferta que Nossa Senhora lhe ensinara: «Ó Jesus, é por Vosso amor».
A Consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria foi um tema sobre o qual Lúcia insistiu, convencida de que dessa dependia a paz do mundo. A 25 de março de 1984, viu realizar-se a Consagração, por parte do Papa, em união com todos os Bispos, cumprindo-se o pedido de Nossa Senhora.
A sua vocação foi vivida de modo radical como serviço à Igreja, Corpo Místico de Cristo, e em profunda união com o Santo Padre. Realizou, assim, o desejo de ser «luz de Jesus e do Coração Imaculado», refletindo no mundo o esplendor do amor misericordioso de Deus.
Faleceu no Carmelo de Coimbra a 13 de fevereiro de 2005, com grande fama de santidade. Esteve sepultada, durante um ano, no claustro do mesmo Carmelo; a trasladação dos seus restos mortais para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, teve lugar no dia 19 de fevereiro de 2006 e foi acompanhada por um grande número de fiéis.
Em virtude da fama de santidade e de sinais, foi celebrado, no Tribunal Eclesiástico da Diocese de Coimbra, o Inquérito Diocesano, em duas fases distintas, entre 2012 e 2017, cuja validade jurídica foi reconhecida pelo Dicastério, com Decreto de 14 de setembro de 2018.
Preparada a Positio, foi realizado, a 9 de março de 2023, com sucesso, o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos. Os Padres Cardeais e Bispos, na Sessão Ordinária de 6 de junho de 2023, reconheceram que a Serva de Deus exerceu em grau heroico as virtudes teologais, cardeais e anexas.
O subscrito Cardeal Prefeito relatou, então, todas estas coisas ao Sumo Pontífice Francisco. Sua Santidade, aceitando e confirmando os votos do Dicastério para as Causas dos Santos, declarou hoje: «Constam as Virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade para com Deus e para com o próximo, bem como as Virtudes cardeais da Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança, e as Virtudes anexas, em grau heroico, da Serva de Deus Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado (no século: Lúcia dos Santos), Religiosa Professa da Ordem dos Carmelitas Descalços, no caso e para os fins em questão».
O Sumo Pontífice ordenou, então, que o presente decreto venha publicado e inserido nas Atas do Dicastério para as Causas dos Santos.
Dado em Roma, no dia 22 de junho do ano do Senhor de 2023.
Marcello Card. Semeraro
Prefeito
✠Fabio Fabene
Arc. tit. de Montefiascone
Secretário