A Diocese de Coimbra, no centro do país, é uma das mais antigas dioceses portuguesas, tendo como actual Bispo D. Virgílio do Nascimento Antunes.
Coimbra chamou-se, outrora, Aeminium, e o seu primeiro bispo conhecido foi Lucêncio, que tomou parte nos Concílios de Braga de 561 e de 572. Porém, a diocese, com sede primitiva em Conimbriga, uma das mais importantes cidades da Lusitânia, deve datar dos fins do século IV ou princípio do V. Segundo o cronista Idácio, Conimbriga foi devastada, em 465 e 468, pelos Suevos, que arrasaram as suas muralhas, construídas no século III. Continuando, no entanto, a ser habitada, como se prova por um epitáfio do ano de 541 e pelos restos de uma modesta igreja moçárabe do século VII, Conimbriga não recuperou o esplendor de outrora. A privilegiada situação estratégica da Aeminium, onde os reis visigodos cunharam moeda, superou Conimbriga, da qual veio a receber o nome, em virtude da mudança da sede do bispado para aqui, sem os bispos abdicarem do antigo título.
Caso idêntico aconteceu com a transferência da sede de outros bispados, por exemplo, no de Mondonhedo, cuja cidade actual se chamava Vallibria até a sede ser transferida de S. Martinho de Mondonhedo para aqui (1114-17). A transferência da de Coimbra deve ter-se dado entre 580 e 589, porque no Concílio de Braga de 572 Lucêncio chancelou as actas como “Conimbrensis ecclesiae episcopus” e no Paroquial suevo, cuja redacção actual é de cerca de 580, Conimbriga é referida como sede da diocese e Aeminium como a principal das suas paróquias. Em 589, porém, Possidónio subscreveu as actas do III Concílio de Toledo já como “Eminiensis ecclesiae episcopu”.
No IV Concílio de Toledo (633), no II de Mérida (666) e em todos os posteriores os bispos de Coimbra voltam a usar o nome de “Ecclesiae Conimbriensis”, tendo, no entanto, fixado a residência em Aeminium. Este facto mostra que Conimbriga era então o nome tradicional e bem arreigado da diocese, que, por isso mesmo, tinha de ser já antiga, talvez dos fins do século IV ou princípio do V. Em 715-716 a cidade e termo da antiga Aeminium, agora Colimbria, aceitaram sem combate a dominação árabe. Coimbra continuou a ser um centro relativamente importante, povoado de cristãos e de muçulmanos. Tudo indica que também se mantivesse a diocese, mas o bispo mais antigo que se conhece do tempo da Reconquista é Nausto (867-912). As condições de vida na cidade e diocese deviam ser difíceis para os cristãos, mesmo depois da reconquista do conde Hermenegildo (878), porque Nausto residiu quase sempre nas dioceses de Braga e de Iria, falecendo nesta em 912. A campanha de Almançor (987) desorganizou a vida cristã nestas regiões, mas a diocese deve ter-se mantido, embora em condições precárias, porque em 1018 aparece o bispo Afonso com o título de Coimbra.
Depois da reconquista definitiva desta cidade, a 9 de Julho de 1064, Fernando Magno nomeou governador ao moçárabe Sesnando. Este escolheu para bispo a D. Paterno, anteriormente bispo de Tortosa, a quem se deve a fundação ou, pelo menos, a reorganização do cabido e a criação da escola episcopal. Por esta altura, D. Sesnando, então alvasil de Coimbra, dava aos Bispos, para sua habitação, o Forum Romano que, ampliado e embelezado pelos Prelados subsequentes, foi Paço Episcopal até 1911.
Servia de catedral de Coimbra uma igreja moçárabe dedicada a Nossa Senhora, que ainda existia cerca de 1140. Nesta altura (1140-1180), pela acção de D. Miguel Salomão, D. Afonso Henriques resolveu construir no mesmo local uma nova catedral (Sé Velha), o mais importante templo românico existente em Portugal. Em 1772 foi substituída pela Sé Nova, a antiga igreja do Colégio dos Jesuítas. Segundo o Provincial hispânico e o Paroquial suevo, a diocese de Coimbra estendia-se desde o Douro até ao Selium, um pouco ao norte de Tomar. A reconquista do Porto, em 868, tornou esta cidade no principal centro de colonização, cuja influência se estendeu para sul do Douro, numa zona litoral, que ficou, por isso, ligada à diocese portucalense. Depois da reconquista de Coimbra, em 1064, esta zona, alargada a Viseu e Lamego, voltou a depender da jurisdição do Bispo de Coimbra, ficando esta diocese com os limites tradicionais, que Pascoal II lhe confirmou a 24 de Março de 1101. Tomando posse da diocese do Porto, em 1113, D. Hugo reivindicou para o seu bispado a zona compreendida entre o Douro e o Antuã, facto obtido de Pascoal II pela bula Egregias quondam, de 15 de Agosto de 1115, com o apoio do arcebispo de Compostela, Diogo Gelmires. Teve, porém, de renunciar a este território, devido às reclamações do bispo de Coimbra, D. Gonçalo, mas a Terra de Santa Maria continuou a ser disputada pelas duas dioceses até o bispo do Porto, D. Julião Fernandes, obter de Inocêncio IV a incorporação definitiva pela bula Provisionis nostrae, de 12 de Setembro de 1253. Os limites com a diocese de Idanha (Guarda) foram também objecto de litígio durante muito tempo. Em 1132 fundou-se em Coimbra o célebre Mosteiro de Santa Cruz, que se tornou feudatário da Santa Sé, ficando isento do prelado diocesano. Este privilégio, sobretudo na parte referente ao território de Leiria, deu origem a inumeráveis e contínuas discórdias entre o Mosteiro e a Mitra, que os pontífices procuraram resolver por diversas bulas, sendo mais notável a Cum olim, dada por Inocêncio III a 26 de Março de 1203. Com a criação das dioceses de Leiria, a 22 de Maio de 1545, e de Aveiro, a 12 de Abril de 1774 (suprimida em 1881 e restaurada em 1938), Coimbra sofreu novas e importantes limitações no seu antigo território diocesano. Localizada na Lusitânia, Coimbra pertencia à metrópole de Mérida, mas com a sua incorporação no reino suevo passou para a metrópole de Braga, como o demonstram os dois primeiros concílios bracarenses (561 e 572), em que Lucêncio tomou parte, o Paroquial suevo e alguns exemplares do Provincial hispânico. Embora o reino suevo ter acabado em 585, Coimbra continuou a pertencer à metrópole bracarense até pouco depois de 650, em que passou para Mérida (v. Braga, metrópole de). Incorporada no reino das Astúrias, em 878, a diocese de Coimbra voltou para a metrópole de Braga, cujo bispo residiu em Lugo até 1070. O arcebispo de Compostela, Diogo Gelmires, obteve de Calisto II, em 1120, as dioceses da antiga metrópole de Mérida, motivando Coimbra e os outros bispados portugueses do Sul do Douro a encetar uma longa contenda entre Braga e Compostela, a que Inocêncio III pôs termo em 1199, atribuindo definitivamente a Braga as dioceses de Coimbra e Viseu. A 5 de Agosto de 1394, D. João I autorizou a permuta que o bispo e cabido de Coimbra fizeram com Martim Vasques da Cunha dos lugares de Belmonte e seu termo e do couto de S. Romão pela vila de Arganil e seu termo, com os respectivos direitos, jurisdições, rendas e pertenças. Em 1472 D. Afonso V, para recompensar os serviços prestados pelo bispo de Coimbra, D. João Galvão, que o acompanhara na tomada de Arzila e Tânger, concedeu-lhe a ele e aos sucessores no bispado de Coimbra o título de conde de Arganil.
Actualmente, a Diocese de Coimbra, com uma população a rondar os 545.000 habitantes, estende-se por uma superfície de 5.300 Km2 compreendendo todo o distrito de Coimbra, à excepção da freguesia de S. Gião, de Oliveira do Hospital; o concelho da Mealhada, do distrito de Aveiro; o concelho de Mortágua, do distrito de Viseu; os concelhos de Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e parte do de Pombal, do distrito de Leiria; e o concelho de Ferreira do Zêzere, do distrito de Santarém. A diocese compreende 10 Arciprestados, onde se distribuem 265 paróquias, 4 reitorias e 1 curato.
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