Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo 2021 - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO 2021
SÉ NOVA DE COIMBRA

Caríssimos irmãos e irmãs!

A Igreja instituiu a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo para nos levar a uma consciência mais viva da presença do Senhor no meio do seu povo, tal como prometeu, quando garantiu aos Apóstolos “Eu estarei convosco todos os dias até ao fim dos tempos”.

Num contexto de dúvidas de fé e de discussão acerca do sentido e do valor da Eucaristia, a Igreja quis ajudar-nos a permanecer na fé acerca da presença sacramental e real de Jesus Cristo, marca essencial da doutrina católica e, acima de tudo, fonte de vida nova por nos tornar participantes do mistério da redenção.

Continuamos a celebrar a mesma solenidade para dar graças a Deus, O louvar e O bendizer pelas suas maravilhas reveladas em Jesus Cristo, para aprofundar a consciência da Sua presença no meio de nós e para que não corramos o risco de nos afastarmos da fé sempre professada pela Igreja.

A liturgia de hoje apresenta-nos o percurso do Povo de Deus, que nasceu com a revelação da aliança de Deus com a humanidade, por meio de Moisés, quando sentiu o Seu amor incondicional, a ponto de o libertar, guardar e proteger de todos os males. Ao pronunciarem a sua decisão “faremos tudo quanto Senhor disser”, manifestam que conhecem, acreditam e estão disponíveis para O servir de todo o coração.

Apresenta-nos depois Jesus Cristo como o Filho de Deus, que entrega a Sua vida, Aquele que derrama o Seu sangue para resgatar todos os homens, o sinal da nova e eterna aliança. É um convite amoroso para que digamos também nós, “faremos tudo quanto o Senhor disser”, pois conhecemos o testemunho único da Sua oferta ao Pai, em favor de todos nós, os que estávamos mortos pelo pecado.

O Evangelho relata a última Ceia e transmite as palavras “isto é o Meu Corpo, isto é o Meu Sangue”, o Pão e o Vinho que são repartidos para salvação da multidão. Alude, por isso, ao gesto ritual de Jesus, que transforma a última Ceia em sacrifício e banquete pascal, o mistério da nossa redenção.

Estamos sempre diante do sinal de Deus e diante do mistério em que havemos e acreditar, da Eucaristia, que havemos de celebrar, adorar e viver como o centro da nossa fé, a fonte onde tem origem a Igreja e o alimento que nos mantém firmes e fiéis ao dom ímpar que recebemos.

Neste contexto, percebemos melhor o significado da celebração dominical da Eucaristia e como não podemos permanecer em Cristo se não participamos nela com fé e com amor. Ficaríamos privados do tesouro inesgotável de graça que está ao nosso alcance e nos configura como cristãos de coração, o que é infinitamente mais do que sermos cristãos de ideias, de rituais ou de estruturas humanas e sociais.

Nesta Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo retomamos a certeza de que a Igreja recebeu o dom de celebrar a Eucaristia por meio do mandato de Jesus: “fazei isto em memória de Mim.” Esta possibilidade mostra-nos a identidade da Igreja, que não vive pelas suas capacidades humanas, mas unicamente pelo poder da graça de Deus, que faz dela Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo.

Como Igreja Santa, ela realiza o serviço de atualizar ao longo dos tempos o único sacrifício redentor de Jesus Cristo, o Seu mistério Pascal. Acolhemos como dom do amor de Deus esta realidade sacramental, que não é um acontecimento perdido no passado, mas é uma graça para o hoje da nossa vida.

Nesta Solenidade, detemo-nos de um modo muito especial na certeza de que a Eucaristia edifica a Igreja, como nos recorda a doutrina de sempre, atualizada pela teologia e pelo magistério. Esta certeza de que é a Eucaristia que constrói a Igreja precisa de ser reavivada em todas as pessoas, estruturas e comunidades cristãs em todas as circunstâncias, mas sobretudo quando pensamos nos auxílios à evangelização, à catequese, à liturgia, à caridade e à ação pastoral em geral.

O grande convite que recebemos no nosso tempo, no qual sentimos a Igreja tão debilitada, vai no sentido de recentrarmos toda a ação evangelizadora e catequética na Eucaristia celebrada, adorada e vivida. Tudo na ação da comunidade cristã nasce dela e se orienta para ela, pois tudo nasce de Cristo e se orienta para Cristo, morto e ressuscitado para fazer da Igreja o sacramento da salvação universal.

Estamos num tempo em que procuramos revitalizar a catequese das crianças e conhecemos a importância que nela tem a família e a comunidade com os dinamismos sempre em renovação pedagógica e humana. Como eixo central de todos os esforços encontramos sempre o amor à Eucaristia, sem o qual não se fazem cristãos nem se edifica a Igreja. Com razão referimos frequentemente, por vezes, até em tom de lamentação, que muitas crianças vão à catequese mas não participam na missa dominical, esse lugar de edificação da fé e da Igreja sem paralelo.

A catequese das crianças, seja em contexto familiar, seja contexto paroquial, frutificará se tiver a Eucaristia no seu centro, pois só desse modo ajudará a crescer no verdadeiro Cristo, o que se dá, entrega a Sua vida e reparte a abundância dos dons de Deus. Com amor haveremos de comunicar às crianças a alegria de estar com o Senhor na celebração, na adoração e na caridade, manifestações singulares da alegria de acreditar e de permanecer n’Ele.

Estamos também muito focados na evangelização dos jovens e na descoberta dos caminhos que lhes possibilitem a mais sublime experiência cristã, que é o encontro pessoal com Cristo. Na nossa Diocese realizámos um percurso sinodal, na tentativa de deixarmos que o Espírito nos ilumine para o conseguirmos.

As catequeses, a partilha fraterna nos grupos, o convite pessoal, o acompanhamento, as ações de voluntariado junto dos mais pobres, a música, a peregrinação, os momentos orantes e tudo o que de bom procuramos fazer, são meios importantes para que Deus toque no coração dos jovens e suscite uma resposta de fé.

Temos, no entanto, a certeza de que sem amor à Eucaristia e sem a alegria de a celebrar com a assembleia cristã podemos estar a correr em vão, pois é ela que edifica a Igreja e torna Cristo presente no coração e na vida dos jovens.

As vocações sacerdotais, que entre eles hão de surgir, serão também o fruto do seu enraizamento em Cristo, que se funda na Eucaristia e por ela nascem e crescem para o serviço de todo o povo que Ele ama e para que o Evangelho seja anunciado.

Irmãos e irmãs, com Maria, a mulher eucarística, modelo e imagem da Igreja, vamos apressadamente ao encontro de Cristo e, connosco, levemos as crianças e os jovens, o presente de Deus e a possibilidade de edificação do Seu Povo Santo.

Coimbra, 03 de junho de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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