1. Ocorre este ano o natal enquanto vivemos o Ano da Fé. Temos, por isso, uma ocasião privilegiada para celebrar o natal da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, “que foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria” (Símbolo dos Apóstolos).
A profissão da fé na incarnação do Verbo de Deus, parte integrante do Credo da Igreja, concentra em si a riqueza do natal e a sua razão de ser. O natal dos cristãos consiste, em primeiro lugar, na renovação da profissão de fé, segundo a qual, o Menino Jesus do presépio é o único “Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos” (Credo de Niceia-Constantinopla).
Face a todas as tradições nascidas à volta da quadra natalícia alheias ao seu sentido original, convido os filhos da Igreja a um natal de fé professada, que oferece fundamentos sólidos para a alegria e a festa de Deus e dos homens.
2. A celebração da liturgia do natal, sobretudo na missa, constitui o ponto mais alto do natal cristão, porque nos oferece a possibilidade de reconhecer, na fé, a razão de ser da incarnação do Verbo de Deus e de agradecer a Sua vinda ao nosso encontro.
Como diz o Credo, “por nós homens e para nossa salvação desceu dos céus”. Eis a grande motivação que suporta toda a alegria reinante nos corações e transbordante em muitos sinais de alegria e salvação presentes nas famílias, na Igreja e na sociedade em geral.
Numa atitude de gratidão a Deus pelo amor que nos tem e pela salvação trazida ao mundo por Jesus Cristo, o Verbo Incarnado, celebremos todos a liturgia do natal com espírito festivo.
Que nenhum cristão, mesmo que se considere pouco praticante, deixe de participar na missa do natal. Convido especialmente os que andam distantes da vida da Igreja ou os que vivem situações económicas, familiares e humanas difíceis a reencontrarem de novo a alegria e a paz de coração, em Deus, que é amor feito homem em Jesus. Ouso mesmo incentivar os não crentes, a entrar numa igreja nesta quadra, a contemplar o presépio, a ouvir a voz do silêncio ou a permanecer durante a Missa, pois pode ali revelar-se-lhes o espírito do natal e abrir-se-lhes a porta da fé.
3. O natal da fé professada e celebrada constitui o maior apelo à fé vivida enquanto fonte de uma cultura de comunhão, partilha e dom.
No contexto da crise económica em que nos encontramos, esta cultura manifesta-se visivelmente em gestos concretos de solidariedade e em atitudes reais de amor, pois o natal potencia a capacidade de as pessoas saírem ao encontro dos outros e torna-se a maior força impulsionadora da fraternidade humana.
Nascido do amor de Deus, que é único, total e nada reserva para si, o natal revela-nos que o amor humano pode ultrapassar muitos dos seus limites. A justiça e a solidariedade nas relações sociais, laborais e familiares, juntamente com o amor e a caridade são, por um lado, as exigências que brotam do natal, e, por outro, as razões superiores para que o celebremos.
A toda a comunidade diocesana formulo os melhores votos de santo e feliz natal.
Coimbra, 16 de dezembro de 2012
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra